Determinado a fomentar o afroempreendedorismo no país, o Sebrae realizou, há dois anos, um grande estudo sobre o tema. O levantamento diagnosticou um quadro alarmante. Constatou que os empreendedores negros ganham menos, têm menos escolaridade, são donos de empresas menores, trabalham mais sozinhos – ou seja, tendem a não contratar ninguém – e contribuem menos com a Previdência. Concluiu, ainda, que pretos e pardos representam 52% dos empreendedores brasileiros, levando em conta tanto os empregadores quanto aqueles que ganham a vida por conta própria.
Naquela época, enquanto os empreendedores negros declaravam renda média mensal de 2.079 reais, os brancos ganhavam 3.040 reais. O rendimento dos empreendedores negros, portanto, era 32% inferior, em média, ao dos brancos. O levantamento também se debruçou sobre as diferenças dos ganhos em relação a raça e gênero. Concluiu-se que as mulheres negras têm o mais baixo rendimento entre os empreendedores: 1.852 reais. Os homens negros, por outro lado, embolsavam 2.188 reais, enquanto as mulheres brancas faturavam 2.706 reais e os homens brancos, 3.231 reais.
Registre-se que as empreendedoras e os empreendedores negros movimentam 1,7 trilhão de reais por ano no Brasil. Esse dado foi calculado pelo estudo “Empreendedorismo negro no Brasil”, conduzido pela aceleradora de empresários negros PretaHub, da Feira Preta, em parceria com o banco J.P. Morgan no Brasil e o Plano CDE (empresa de pesquisa e consultoria de avaliação de impacto especializada nas famílias das classes C, D e E no Brasil). Do total de pretos ou pardos que empreendem no país, 52% são mulheres.
Do total de pretos ou pardos que empreendem no país, 52% são mulheres
Os desafios históricos que cercam o afroempreendedorismo são conhecidos. Não por acaso, o que motiva 44,5% dos afrodescendentes a montar um negócio, de acordo com pesquisas internas do Sebrae, é a falta de emprego. Para efeito de comparação, esse motivo é apontado só por 28% dos homens brancos. A entidade aponta, no entanto, que o afroempreendedorismo está em alta, com cada vez mais oportunidades. Daí os esforços da instituição para fomentar o segmento por meio de ações voltadas exclusivamente para ele.
Exemplos de empreendedores negros que viraram referência – e têm muito a ensinar – não faltam. É o caso de Nina Silva, CEO e fundadora do Movimento Black Money, que tem o apoio do Sebrae. Criado em 2017, o hub de inovação tem o propósito de dar autonomia à comunidade negra, além de inseri-la na era digital. O objetivo inicial da companhia, fundada em parceria com Alan Soares, era montar um banco, que só saiu do papel em 2019. Trata-se do D’Black Bank, cuja razão de ser é criar facilidades financeiras para o público negro. A fintech já lançou cartão de crédito e conta de pagamento, em fase de reestruturação.
O ecossistema também dispõe de um braço educacional, o Afreektech. “Temos a meta de impactar 20.000 jovens e adultos até o final de 2025 com cursos gratuitos que abram caminho para o mercado de tecnologia”, diz Silva, acrescentando que mais de 10.000 pessoas já foram capacitadas pela iniciativa. O Movimento Black Money também é dono de um banco de talentos com mais de 5.000 currículos e do maior marketplace negro da América Latina – reúne mais 3.000 empreendimentos e 7.000 produtos.
Faltou falar que a companhia se mobilizou para distribuir cerca de 2 milhões de reais, entre capital próprio e de terceiros, em rodadas de investimento seed. Cerca de 250 empreendedores foram beneficiados. Uma das empresas que ganhou um empurrão do Black Money é a DaMinhaCor. É especializada em toucas para natação próprias para cabelos afro volumosos e também comercializa versões descartáveis, para ambientes fabris, entre outros. “A marca já iniciou um processo de internacionalização”, comemora Silva.
Outra empreendedora negra que virou referência é a RP Daniele Mattos. Ela também se dedica a ajudar mulheres como ela a seguir pelo mesmo caminho. Em 2020, em conjunto com duas publicitárias, Veronica Dudiman e Amanda Abreu, fundou a Indique uma Preta. Trata-se de uma consultoria que tem o propósito de conectar a comunidade negra ao mercado de trabalho e de capacitar, gratuitamente, quem quer ascender profissionalmente ou empreender. Já atendeu mais de 100 empresas, como Natura e Magalu, e chegou a 1.200 alunos. “Saber vender nas redes sociais, por exemplo, pode fazer toda a diferença para quem quer empreender”, resume Mattos, que fez curso de empreendedorismo no Sebrae.