A saída inesperada de Carlos Tavares, CEO da Stellantis NV, deixa a fabricante dos carros Jeep e Peugeot sem uma liderança clara em um momento de grande transformação na indústria automobilística.
As ações da Stellantis caíram até 8,9% em Milão nesta segunda-feira (2) e acumulam queda de 46% no ano, após a empresa anunciar no domingo que o presidente do conselho, John Elkann, liderará um comitê interino até que um novo CEO seja nomeado.
A Stellantis enfrenta desafios como a queda de vendas nos EUA e o excesso de capacidade na Europa, onde a demanda por veículos elétricos está diminuindo ao mesmo tempo em que fabricantes chineses ganham mercado na região.
Saída em momento crítico
A saída de Tavares ocorre antes do previsto, devido a divergências sobre o futuro da empresa com o conselho e alguns acionistas, informou a companhia. Ele liderava a Stellantis desde sua criação em 2021, após a fusão do grupo PSA (Peugeot e Citroën) com a Fiat Chrysler. Recentemente, sua postura de corte de custos gerou tensões com sindicatos, concessionárias e executivos.
“A ausência de Tavares chega em um momento em que decisões críticas precisam ser tomadas,” afirmaram analistas da Jefferies, liderados por Philippe Houchois.
Tavares é o mais recente executivo a enfrentar pressão em uma indústria que lida com a desaceleração econômica na China, a queda na demanda por veículos elétricos na Europa e a perspectiva de tarifas adicionais com a iminente volta de Donald Trump à Casa Branca.
Desafios na Stellantis
Nas últimas semanas, Tavares tentava recuperar o controle após a empresa reduzir suas previsões de lucro e fluxo de caixa em setembro. Apesar de medidas como substituição do diretor financeiro e outros executivos, a participação de mercado continuou a cair em mercados chave, como França, preocupando investidores com as perspectivas de longo prazo da companhia.
A Stellantis confirmou suas metas no domingo e afirmou que pretende nomear um novo CEO no primeiro semestre de 2025.
“Trocar o CEO e o CFO em tão pouco tempo cria um desafio para os investidores,” comentou o analista da JPMorgan, Jose Asumendi. Ele afirmou que os investidores provavelmente continuarão cautelosos até que a nova equipe de gestão esteja estabilizada.
Legado e tensões de Tavares
Carlos Tavares, 66 anos, foi elogiado por sua capacidade de reverter a situação de montadoras em dificuldades, inicialmente repetindo esse sucesso na Stellantis com medidas como redução de plataformas de veículos e cortes de empregos. No entanto, nos últimos meses, surgiram tensões, com sindicatos alertando sobre problemas de qualidade e atrasos no lançamento de novos modelos.
Nos EUA, concessionárias acusaram Tavares de prejudicar marcas como Jeep, Dodge, Ram e Chrysler.
“Ele não fará falta na América do Norte,” disse Erik Gordon, professor da Ross School of Business da Universidade de Michigan. “Nem para os fornecedores, nem para os concessionários, nem para os compradores de carros que ignoraram seus modelos.”
Próximos passos
O CFO Doug Ostermann, nomeado após o alerta de lucro em setembro, citou progressos na redução de estoques e na recuperação da participação de mercado nos EUA, o maior mercado de lucro da Stellantis. Ele deve falar em uma conferência da Goldman Sachs esta semana.
Além disso, a Stellantis enfrenta atritos com o governo italiano sobre seus níveis de produção no país. Elkann informou a primeira-ministra Giorgia Meloni antes da renúncia de Tavares, segundo fontes familiarizadas com o assunto.
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