A economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, afirmou nesta segunda-feira, 18, que o arcabouço fiscal aprovado pelo governo Lula em 2023 não será suficiente para estabilizar a dívida pública sozinho. Segundo ela, é necessário ousar mais na condução fiscal para criar um ambiente que permita juros mais baixos e sustentáveis no longo prazo.
“Poderíamos ousar mais na política fiscal para dar mais espaço para conviver com juros mais baixos, neutros e naturais. Porque, à medida que temos juros mais altos, um menor número de projetos se viabiliza, e isso gera pressão por mais subsídios e excepcionalidades”, disse a economista durante a live sobre os desafios da política fiscal para 2025, organizada pela Warren Investimentos.
Ela aponta que o Brasil precisa de mais reformas estruturantes para mudar o patamar e sair “das cordas que está há 10 anos”.
Ex-secretária do Tesouro Nacional e ex-secretária executiva do Ministério da Fazenda, Vescovi disse que o resultado das eleições municipais deste ano, com a vitória de partidos de centro e centro-direita, sinaliza um desejo da população por mais inovação e oportunidades igualitárias.
“O resultado das urnas neste ano mostrou que a sociedade quer mais dinamismo e inovação, principalmente nas políticas sociais e no empreendedorismo”, afirmou.
Em relação às críticas de suposto exagero do mercado quanto ao quadro fiscal, a economista alertou que o atual cenário, com depreciação cambial e projeções de inflação acima da meta, já afeta a vida da população, especialmente com a alta nos preços de alimentos.
“Não é uma questão teórica que acontece apenas nos mercados. Podem estar exagerando ou não, mas a preocupação deve ser em prevenir que isso atinja as empresas”, destacou Vescovi.
Ela acrescentou que, com a alta da taxa de juros, o receio é de que a deterioração fiscal contamine o setor real da economia, ampliando a perda de confiança e prejudicando tanto pessoas quanto empresas.
“Acho que agora é o momento de frear esse processo de deterioração e impedir que essa perda de confiança que contaminou os mercados chegue ao setor real. Porque já está afetando a vida das pessoas”, disse a economista.
Viabilidade do pacote é um fator importante
Vescovi afirmou ainda que o pacote de gastos, que deve ser anunciado pelo governo nos próximos dias, precisa ser viável do ponto de vista político.
A economista destacou que, como é esperado o envio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), será necessária aprovação de 308 deputados e 48 senadores em dois turnos em cada Casa.
“O Congresso vai ter que analisar e aprovar essas medidas. A viabilidade e factibilidade dessas medidas é um fator importante”, afirmou Vescovi.
Segundo a economista, a expectativa do Santander é de um corte de R$ 70 bilhões, acumulado para 2025 e 2026. Ela acredita que o anúncio do pacote pode ajudar a conter a percepção de risco do mercado, mas ressaltou que é necessário também conter a velocidade de crescimento dos gastos obrigatórios.
“O debate não para por aqui. Óbvio que estamos preocupados com o curto prazo, é um sinal importante, mas não podemos perder de vista o contexto maior, considerando o cenário mundial somando contra os emergentes”, disse.
Corte de gastos do governo Lula
O governo Lula está discutindo um pacote de medidas para atingir as metas fiscais e implementar o novo arcabouço fiscal. Nas últimas semanas, a equipe econômica, liderada pelos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, tem se reunido com o presidente e outros ministros para definir estratégias de controle de despesas.
A expectativa, como mostrou a EXAME, é que o pacote seja anunciado após a cúpula do G20. O governo deve enviar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com mudanças para melhorar o quadro fiscal do país.
A projeção de alguns agentes do mercado, como a Warren e o Santander, é de um pacote de R$ 70 bilhões, contemplando medidas para 2025 e 2026.
Em entrevista à emissora Times Brasil, Haddad afirmou que o pacote está pronto e será anunciado em breve. O ministro declarou ainda que aguarda uma resposta do Ministério da Defesa, que também pode ser impactado pelo pacote de medidas contra o crescimento de gastos.