A safra de 2024 na Borgonha já entrou para a história como uma das mais desafiadoras das últimas décadas. Os produtores enfrentaram um verdadeiro teste de resiliência, com clima adverso, doenças que devastaram vinhas e um mercado cada vez mais tenso. Em meio a tudo isso, surge a coragem dos viticultores que, mesmo diante das adversidades, continuam acreditando na promessa de vinhos extraordinários. “É preciso acreditar”, como diz Claire Naudin, produtora engajada da Borgonha, trazendo à tona uma verdade inegável sobre a safra.
A situação nas vinhas baixas foi particularmente difícil. “Quando sobra Pinot, em vinhas baixas, fica assim: cachos muito pequenos, mordiscados ou mesmo engolidos pelo míldio”, conta Naudin, ressaltando a gravidade da situação.
Julien Cruchandeau, produtor de Nuits-Saint-Georges, ecoa essa visão: “Na verdade, foi um ano muito difícil nas vinhas, com quantidades muito baixas. Mas a vinificação está correndo bem e espero que a vindima nos dê bons vinhos”, diz.
Apesar das perdas significativas nas vinhas baixas, as vinhas situadas em áreas mais altas trouxeram um pouco de alívio. A sanidade dessas uvas garante que, mesmo com uma produção reduzida, haverá vinhos que refletem a excelência da Borgonha. É um alívio para os produtores que, após um ano de tantas dificuldades, finalmente encontraram algo positivo em meio ao caos.
Se o trabalho nas vinhas já foi árduo, os produtores ainda enfrentam outro obstáculo: o mercado de vinhos. A pressão econômica, as mudanças no consumo e os juros anuais, que eram de 1,5% a 2% em 2021 e 2022, e chegaram a recordes de 4% em 2024, levaram a uma queda no interesse dos consumidores em adquirir garrafas. Logo, a crescente competitividade cria um desafio adicional para os produtores, que agora precisam não apenas colher e vinificar, mas também garantir que seus vinhos encontrem espaço em um mercado cada vez mais difícil.
O que a safra de 2024 nos ensina é que cada garrafa de vinho é única. Apesar de todas as dificuldades, essa safra tem o potencial de ser memorável. A produção será menor, mas aqueles que tiverem a sorte de provar uma garrafa dessa safra difícil poderão degustar o resultado de um ano de esforço, persistência e esperança.
Afinal, como disse Bernard Noblet, mítico vinificador da Romanée-Conti por décadas: “É em safras difíceis que nos doamos mais ainda e conseguimos resultados excepcionais”. Ele fez a declaração enquanto servia um fabuloso Grand Cru Montrachet 1977, ano massacrado pela crítica, mas que se degustava divinamente.
Por essas diferenças entre safras e tantos outros fatores, cada garrafa de vinho é verdadeiramente única. Em meio às dificuldades, há sempre uma razão para brindar. Então, celebre o dia de hoje com um bom vinho e reconheça o trabalho incansável daqueles que fazem da Borgonha um dos maiores terroirs do mundo. Porque, no fim, a vida merece ser brindada.