As empresas brasileiras BRF (BRFS3) e WEG (WEGE3) intensificaram sua presença na China com anúncio de novos investimentos na última quarta-feira (20).
O frigorífico adquiriu uma fábrica de alimentos processados no país, pertencente ao Grupo OSI, por US$ 43 milhões (cerca de R$ 248 milhões), enquanto a segunda aprovou investimentos na expansão de sua capacidade fabril. Ambos os movimentos foram avaliados positivamente por analistas.
No caso da BRF, após investimentos adicionais estimados pela gestão em US$ 36 milhões, a planta deverá ter capacidade para processar 60 mil toneladas por ano (equivalente a 1,2% da capacidade total da BRF).
O Goldman Sachs avalia que há méritos estratégicos na transação, pois ela pode permitir que a BRF amplie seu portfólio além dos produtos in natura, incluindo alimentos processados da marca Sadia (com foco inicial em hambúrgueres).
Segundo o Goldman, a estratégia busca replicar um modelo de produção local bem-sucedido em países como Turquia e regiões do Oriente Médio, fortalecendo a posição da empresa em um dos maiores mercados de proteína do mundo (atualmente, a China responde por cerca de 4% das vendas da BRF).
O banco americano ainda lembra que o anúncio segue a recente aquisição de uma produtora local de frango na Arábia Saudita pela BRF.
Já o Bradesco BBI pontua que o investimento é virtualmente imaterial para o índice de alavancagem da empresa. No entanto, conforme o banco, o acordo sugere que o “crescimento está de volta”.
A equipe de research do BBI comenta que não apenas as restrições de balanço patrimonial de longa duração da empresa foram resolvidas, mas o desempenho operacional também voltou aos níveis de referência.
O BBI disse ver 2024 como um ano crucial, marcado pela maturação das principais iniciativas do programa BRF+ e pelo retorno a uma trajetória de crescimento de volume mais consistente, principalmente em seu segmento FPP no Brasil.
Olhando para o futuro, o banco espera que esse impulso de crescimento no Brasil continue, enquanto a empresa também se posiciona para expandir ainda mais sua presença internacional.
“Em segundo lugar, embora fortalecer sua posição nos mercados Halal (carne de animais abatidos de acordo com as regras da lei islâmica) já fosse uma parte essencial da estratégia da BRF, esta aquisição sugere que a empresa também está desenvolvendo novas fronteiras de crescimento”, diz o BBI. “Embora a China seja o mercado mais importante para as exportações brasileiras de proteína em geral, é também onde as empresas têm lutado consistentemente para avançar na cadeia de valor.”
Nesse sentido, de acordo com BBI, a aquisição parece um importante passo à frente, alinhando-se com a meta da BRF de expandir sua presença na categoria, capitalizando a competitividade de custos do Brasil na produção de proteína e criando uma nova avenida de crescimento em um mercado altamente relevante.
O Golman Sachs manteve classificação neutra para as ações da BRF, com preços-alvo de 12 meses de R$ 24,00 para as ações e US$ 4,25 para os ADRs. Segundo o banco, os preços-alvo são baseados em uma avaliação SOTP (soma das partes) com um múltiplo-alvo Valor da Firma (EV)/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 7,0 vezes, alinhado ao histórico de negociação da PPC, uma referência global no setor de frango.
O Bradesco BBI também reiterou recomendação neutra e preço-alvo de R$ 24, pois continua sem visibilidade sobre onde as avaliações ficariam com base nas margens de meio de ciclo.
WEG (WEGE3)
Depois de uma série de investimentos nas Américas (principalmente Brasil e México) e fusões e aquisições nos EUA e na Europa (incluindo Marathon/Regal, Gefran e Volt), a WEG está redirecionando seu foco de investimentos para a China. A companhia anunciou na quarta-feira um investimento de US$ 62 milhões para expandir sua capacidade de produção em seu parque industrial de Rugao, na China, visando atender à crescente demanda do mercado e fortalecer sua presença na região.
Nesse contexto, o BTG ressalta que criar hubs de manufatura verticalmente integrados em países de baixo custo sempre foi central na estratégia de expansão internacional da WEG. “Regiões como México, Índia e China têm sido consistentemente priorizadas pelos executivos seniores da companhia, incluindo o CEO recentemente nomeado, que possui uma década de experiência de trabalho na China”, acrescenta o banco.
Sendo assim, o BTG acredita que o investimento anunciado está alinhado com as ambições de longo prazo da WEG de aumentar gradualmente a integração de componentes próprios em suas unidades internacionais, melhorando a competitividade nos principais mercados globais.
Apesar da alta valorização da companhia (31 vezes Preço/Lucro para 2025), o BTG manteve recomendação de compra para WEG e preço-alvo de R$ 68 devido ao forte momento nos resultados e fatores estruturais sólidos que suportam uma expansão de múltiplos das ações.
O time de análise da Genial Investimentos também considera o anúncio positivo, devido à maior exposição da WEG ao ambiente internacional, mas não enxerga um impacto relevante proveniente deste projeto específico, devido ao volume relativamente baixo de investimento. A Genial reiterou recomendação de compra e preço-alvo de R$ 58 para ações da WEG.
Na mesma linha que BTG e Genial, o BBI classifica o investimento como positivo, pois a empresa está expandindo sua presença na China. O banco manteve classificação neutra e preço-alvo de R$ 51.
O JPMorgan considera o anúncio positivo para a empresa, pois reflete a contínua internacionalização da WEG. O investimento de US$ 62 milhões (aproximadamente R$ 350 milhões) representa cerca de 8% do capex projetado para 2025 e 2026, estimado em R$ 2,0 bilhões.
Atualmente, a WEG negocia a 21,7 vezes EV/Ebitda estimado para 2025, em comparação com cerca de 16,9 vezes de seus principais pares industriais. Apesar disso, o JPMorgan reiterou recomendação de compra e preço-alvo de R$ 67.
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