Há quase dez anos no Brasil, a rede italiana Eataly viveu um período de auge, com faturamento anual de R$ 100 milhões. O espaço atraiu amantes da gastronomia com aulas-show de chefs renomados e a chance de provar pratos de estrelas como Alex Atala e Massimo Bottura, um dos chefs italianos mais respeitados da atualidade. Porém, a pandemia de covid-19, combinada a problemas de gestão, levou a marca a enfrentar um cenário difícil, incluindo dívidas de R$ 55 milhões.
É o brilho dos tempos áureos que Marcos Calazans, novo CEO da rede no Brasil, busca resgatar. Ele assumiu a operação há um ano junto com o fundo Wings, formado por investidores, entre médicos, contadores e publicitários, e um Family Office. A transação retirou a South Rock, que está em recuperação judicial, do controle da operação. Pelo acordo, o fundo investiria R$ 15 milhões e assumiria dívidas acumuladas de R$ 45 milhões.
Contudo, ao finalizar os balanços, Calazans descobriu que a dívida era maior: R$ 55 milhões. O acordo precisou ser revisado e aguarda homologação judicial, mas os resultados já começaram a aparecer. Segundo ele, R$ 20 milhões foram pagos e o restante foi renegociado com credores, que retomaram o fornecimento de produtos e insumos. “O amor dos fornecedores pelo Eataly é muito grande. Todos eles já voltaram”, diz o CEO em entrevista exclusiva à EXAME Casual.
Sob nova direção
A mudança na gestão é a marca que Calazans quer deixar. Ele reestruturou processos, cortou custos e otimizou recursos, acompanhando de perto o cotidiano da operação. Os esforços já aparecem nos números: no terceiro trimestre deste ano, a marca atingiu o break even, o ponto em que as despesas e receitas se equilibram. “Até o fim do ano, o objetivo é arrumar a casa para 2025 ser o ano do crescimento. Já estamos faturando acima de R$ 5 milhões por mês”, afirma Calazans.
Embora o faturamento ainda esteja distante dos R$ 10 milhões mensais da média anterior, o CEO aposta na operação de mercado como principal oportunidade de crescimento. Atualmente, 75% da receita vem dos restaurantes, mas a meta é equilibrar essa proporção, trazendo de volta produtos exclusivos que só se encontram no Eataly. “Pesquisas internas mostram que a credibilidade da marca perante o consumidor é muito alta”, afirma ele. Hoje, cerca de 2.000 pessoas circulam pelo espaço diariamente.
Novos restaurantes e escola de gastronomia
Parte da reestruturação inclui a renovação dos restaurantes. No último andar, foi inaugurado recentemente o Nice to Meat U, especializado em carnes. Já o restaurante Giro, que ficava no térreo, deixou o Eataly e abrirá em breve uma unidade no Itaim. “Era a única operação que não era nossa, o que causava problemas de gestão. Agora, vamos abrir um novo restaurante no mesmo espaço até o fim do ano”, diz o CEO.
Na terça-feira, 19, o Eataly inaugurará uma escola de gastronomia com capacidade para 20 pessoas, voltada tanto para aulas abertas ao público quanto para eventos corporativos. Grandes chefs serão convidados a ministrar aulas presenciais e também no formato digital, agregando mais uma fonte de receita à operação.
Calazans também explica que, dentro do Eataly, funcionam 15 unidades de negócio. Nessa estrutura estão os restaurantes, a adega, a sorveteria, o café e a escola de gastronomia. Cada uma dessas operações possui metas específicas para contribuir com o aumento da receita total, reforçando a sustentabilidade financeira da marca.
Vida longa ao Eataly
Com 12 anos de mercado, Marcos Calazans aposta que essa nova fase do Eataly dará vida longa à marca no Brasil. Com as dívidas controladas e a operação em equilíbrio, há planos para expandir o negócio para outras cidades. “Ainda não está nos planos imediatos, mas, se surgir uma oportunidade imperdível, vamos adiantar o planejamento”, revela.
O contrato com a matriz italiana é de 30 anos, contados desde 2022, e o fundo Wings não tem planos de vender o ativo. O objetivo é tornar a operação lucrativa a longo prazo antes de iniciar qualquer expansão.
E, como em uma receita bem preparada, o Eataly busca o equilíbrio entre os ingredientes: tradição, inovação e proximidade com seu público. Resgatando a essência que fez da marca um ícone, a nova gestão aposta em um futuro de sabor e longevidade.