Aos 200 anos, cidade do interior de São Paulo vivencia crescimento do setor têxtil com expertise herdada da tradição calçadista. A empresária Berenice Zani tinha dificuldade em encontrar roupas confortáveis que não perdessem a costura durante as tarefas do dia a dia. Inconformada e ainda sem conhecimento na área, ela decidiu começar a produzir peças de elastano por ela mesma e com a ajuda de uma amiga costureira. Duas décadas depois, a decisão dela se concretiza em uma das principais indústrias de roupas de Franca (SP) e ajuda a explicar as transformações econômicas da conhecida capital do calçado masculino, que está completando 200 anos.
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“Pra quem tem um biotipo acima do normal sempre vai estar fazendo exercício, regime, e precisa dessa roupa, que te deixa à vontade, que você pode abrir a perna, levantar a perna e não descosturar. Decidi fazer e comecei”, conta.
A empresária Berenice Zani começou a produzir roupas de academia a partir de dificuldade em encontrar roupas confortáveis em Franca, SP
Aurélio Sal/EPTV
Com quase 400 mil habitantes e uma tradição baseada no café e nos calçados, a cidade paulista tem cada vez mais dado espaço ao setor têxtil, com mais de 1,4 mil indústrias da área e um crescimento de 20% desde 2019.
Em grande parte, essa transformação tem suporte na expertise herdada da confecção de calçados, área que, ainda que marcada pela forte industrialização ao longo das décadas, sempre demandou capacidades manuais, com uso de linhas e agulhas, nas conhecidas bancas de pesponto, para formatar corretamente o produto final.
“A riqueza mudou de mão e a mudança de mão é pelo ofício que se faz pra gerar riqueza nova. Você tem algumas fábricas de lingerie, tem fábricas de roupas para prática de esportes, tem resquícios de fábricas de calçado que competem com aquela ideia da banca que, em um determinado momento, dominou a paisagem”, afirma o historiador Pedro Tosi.
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Aurélio Sal/EPTV
Especializada em roupas para academia, a fábrica de Berenice emprega atualmente 110 pessoas, entre contratados e terceirizados. São 20 anos de história e só nos últimos cinco o crescimento do negócio foi de 150% em média. Uma produção de 15 mil peças por mês que chega a todos os estados brasileiros e a países da América do Sul.
“A gente sempre teve a percepção e a noção de que Franca tem como se tornar um polo da confecção tranquilamente, porque toda a estrutura física que a cidade tem é compatível para a confecção também. Os barracões, as bancas de pesponto que existem hoje, tudo pode ser linkado com a confecção. Tem toda a facilidade para transformar o polo calçadista, não querendo ultrapassar ou criar nenhum tipo de rixa, mas sabendo que Franca tem todo potencial de agregar mais esse segmento de mercado que é o da confecção”, afirma Adriano Zani, sócio e marido de Berenice.
O estilista Samuel Riechel, de Franca (SP)
Aurélio Sal/EPTV
Uma amostra dessa transformação industrial também está nos centros de formação profissional. O Senac, por exemplo, que preparou diferentes gerações para o chão de fábrica calçadista, hoje também conta com um curso voltado para o vestuário na cidade, que também conta com ensino superior na área de moda.
Samuel Riechel é estilista e francano. Há um ano trabalhando em uma indústria têxtil, ele planeja como e quais peças vão ser feitas. Antes de trabalhar por lá, morou em outras cidades. Segundo ele, voltar para a terra natal, trabalhando com o que gosta foi a melhor escolha que poderia ter feito.
“Franca atualmente me faz muito feliz. (…) Franca ultimamente na questão têxtil vem crescendo muito e hoje me preenche bastante por estar perto da família, dos amigos, não troco Franca por nada”, diz.
Essa sensação de pertencimento é compartilhada por Bereni. Nascida em Minas Gerais, ela se mudou para a cidade paulista nos anos 1980 e a adotou para sempre. A realização do sonho de ter uma indústria de roupas somente consolidou esse afeto pelo município. Ela deseja que a transformação que ela protagoniza seja apenas o começo de uma nova era.
“Que seja uma cidade de 200 anos nova, moderna, que o passado sirva pra gente como um exemplo. (…) Franca precisa se modernizar, entender melhor ainda esse despertar pra realidade de hoje, cibernética, desse mundo de hoje”, diz.
Produção de roupas de academia em fábrica de Franca, no interior de São Paulo
Aurélio Sal/EPTV
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