Magistrado proíbe execução da música da cantora por ver ‘forte indício de consonância melódica’ entre ‘Million years ago’ e o sucesso de Martinho da Vila. ♫ OPINIÃO
♩ Somente um musicólogo pode atestar diante de um tribunal se de fato a música Million years ago – composta por Adele em parceria com o produtor musical norte-americano Greg Kurstin e lançada pela cantora britânica há nove anos no álbum 25 (2015) – é mesmo plágio do samba Mulheres (1995), como alega o compositor Toninho Geraes em ação que tramita na Justiça.
Música mais famosa do cancioneiro autoral de Toninho Geraes, Mulheres foi lançada 20 anos antes de Million years ago na voz de Martinho da Vila em gravação feita pelo cantor para o álbum Tá delícia, tá gostoso (1995), título mais vendido da discografia de Martinho.
E, convenhamos, a semelhança entre as melodias das duas composições é muito grande e não pode (ou pelo menos não deveria) ser percebida como uma coincidência casual. Tanto que o juiz Victor Torres, da 6ª Vara empresarial do Rio de Janeiro, vetou a reprodução e comercialização da gravação da música de Adele nas plataformas de streaming sem autorização de Geraes por ter detectado “forte indício de quase integral consonância melódica” entre as duas músicas. Tomada na sexta-feira, 13 de dezembro, a decisão do juiz sinaliza que a justiça enfim poderá ser feita em favor de Toninho Geraes.
Cabe recurso, e Geraes luta na Justiça contra uma das cantoras mais famosas (e poderosas) do mundo e contra uma gravadora multinacional (a Sony Music), mas essa vitória inicial mostra que, sim, a ação não é delírio ou egotrip de Antônio Eustáquio Trindade Ribeiro, cantor e compositor mineiro nascido em Belo Horizonte (MG), em março de 1962, e conhecido como Toninho Geraes nas rodas e pagodes do Rio de Janeiro (RJ), cidade onde o artista reside deste 1979.
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Se for comprovado o alegado plágio e Toninho Geraes vencer a ação, ficará a lição – para compositores do mundo todo – de que a apropriação indébita da criação de um artista do Brasil gera um preço a pagar. Literalmente.
Em que pese toda a explosão planetária da bossa nova e a crescente exposição do funk brasileiro além das fronteiras nacionais, parece ainda haver uma sensação no exterior de que o Brasil é uma terra de ninguém. Uma terra sem lei aplicada aos gringos. Contudo, Toninho Geraes tenta provar o contrário na Justiça ao defender a própria criação, supostamente alvo de plágio.
Que prevaleça a verdade e a Justiça seja feita!