A violência do narcotráfico, a turbulência política, uma economia vacilante e os apagões que duram até 14 horas por dia marcam o período eleitoral para as eleições presidenciais de fevereiro no Equador, nas quais o presidente Daniel Noboa tenta a reeleição.
A pior seca das últimas seis décadas colocou em xeque as usinas hidrelétricas, que atendem a 70% da demanda, o abastecimento de água potável e a produção agrícola. A vida cotidiana é um pesadelo para muitos equatorianos.
“O que o Equador está vivendo é uma crise multidimensional que se expressa em termos econômicos, elétricos e políticos”, disse à AFP Fernando Carrion, pesquisador político da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), em Quito.
A nação de 17 milhões de habitantes deixou de ser, há vários anos, uma ilha de paz entre a Colômbia e o Peru, os maiores produtores de coca do mundo. Transformada em um centro internacional de operações para o tráfico de drogas e o crime organizado, a taxa de homicídios subiu de seis por 100.000 habitantes em 2018 para um recorde de 47 em 2023.
Noboa aplicou uma política de mão de ferro e conseguiu reduzi-la para 33, mas a sensação de insegurança persiste. E o fantasma dos massacres nas prisões voltou, com 17 mortes no último confronto.
O presidente está governando há um ano sem maioria no Congresso e se distanciou de sua vice-presidente Verónica Abad, que foi embaixadora em Israel e foi suspensa por cinco meses pelo Ministério do Trabalho por “abandono injustificado” de suas funções.
Essa decisão a impedirá de substituir Noboa em janeiro, quando ele iniciar sua campanha para a reeleição. Abad, que acusa Noboa de “perseguição”, retornou ao Equador na quarta-feira em “um ato de rebelião”.
“Há desafios por todos os lados”, disse o analista político e econômico Alberto Acosta Burneo, da consultoria Spurrier Group.
Tempos frustrantes
A economia do Equador, dolarizada e dependente da estagnação da produção de petróleo, também está imersa em incertezas. Antes dos apagões, que já duram dois meses, o país já estava em uma “fase muito baixa de crescimento”, observou Acosta Burneo.
Os cortes de energia começaram em abril e se intensificaram em setembro devido à escassez de chuvas, associada à mudança climática, de acordo com a ministra de Energia, Inés Manzano.
O governo planeja estendê-los até pelo menos dezembro, a um “custo muito alto” para o país, disse Acosta Burneo.
O Equador havia estimado anteriormente um crescimento de 0,9% em 2024, em comparação com 2,4% em 2023. O FMI prevê apenas 0,3%.
Os apagões deixam prejuízos de 1,44 bilhão de dólares (8,31 bilhões de reais – 1% do PIB), de acordo com associações empresariais, que estimam o custo de cada hora sem eletricidade em 12 milhões de dólares (69 milhões de reais).
“É um momento muito frustrante”, reconheceu Noboa, um empresário que se autodenomina de centro-esquerda.
O índice de aprovação de Noboa caiu de 85% em janeiro para 42% em outubro, de acordo com a Opinion Profiles. Seu mandato de 18 meses termina em maio de 2025, como substituto do direitista Guillermo Lasso (2021-2023).
Sem completar seu mandato de quatro anos, Lasso dissolveu o Congresso e convocou eleições antecipadas para evitar um julgamento de impeachment que buscasse sua remoção.
A pesquisa mais recente da empresa Comunicaliza mostra que o mandatário caiu pelo menos seis pontos nas intenções de voto. Embora ele ainda esteja em primeiro lugar, com 27,5%, seguido pela esquerdista Luisa González (26,7%).
“Essas diferentes crises estão atingindo (Noboa) e provavelmente a que o atinge com mais força (…) é a crise energética”, disse Carrión.
Popularidade atingida
Após um ataque do narcotráfico em janeiro, o governante respondeu com políticas duras contra cerca de 20 organizações ligadas a cartéis internacionais.
Ele declarou que o país estava em um conflito armado interno, colocou as Forças Armadas nas ruas e nas prisões e deu às gangues o status de “terroristas” e “beligerantes” para enfrentá-las implacavelmente.
Sua estratégia reduziu os homicídios e aumentou as apreensões de drogas para 262 toneladas até agora neste ano, em comparação com 219 toneladas em 2023.
Entretanto, a população “tem uma percepção muito alta de insegurança, o que faz com que o presidente perca apoio”, disse Carrión.
Noboa admitiu que a crise de eletricidade “afetou” sua popularidade.
Os sequestros e a extorsão também estão sangrando o país. “Tudo isso prejudicou a legitimidade do presidente e suas aspirações” à reeleição, disse Carrión.
Sob o fantasma do magnicídio, alguns candidatos à presidência relatam ameaças.
Mais de 30 políticos foram assassinados desde o ano passado, incluindo o candidato presidencial Fernando Villavicencio (centro), que foi baleado ao sair de um comício em Quito na véspera do primeiro turno em 9 de agosto de 2023.