O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, fez nesta 4ª feira (11.dez.2024) a sua última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Deixará o cargo até 31 de dezembro. Será substituído por Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária.
O BC é responsável por controlar a inflação para proteger o poder de compra da população. Durante a gestão de Campos Neto, a menor taxa acumulada em 12 meses foi em maio de 2020, durante a pandemia de covid-19, quando atingiu 1,88%. Já a maior foi em abril de 2022, de 12,13%.
Leia abaixo o histórico do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo):
Quando assumiu o BC, em março de 2019, a inflação anualizada era de 3,89%. No último resultado disponível, foi de 4,87%, acima da meta de 3% e também superior ao limite permitido de 4,50%.
Já a taxa básica, a Selic, utilizada para controlar o aumento dos preços, teve o nível mais baixo em 2%, de agosto de 2020 a março de 2021. O mais alto foi de 13,75%, de agosto de 2022 ao mesmo mês de 2023. Quando Campos Neto assumiu o comando do BC, o juro base era de 6,50% ao ano. Sairá com a taxa em 12,25% em tendência de alta.
POLÍTICA MONETÁRIA
Campos Neto fez 47 reuniões do Copom de 2019 a 2024. A taxa básica de juros atingiu o nível mais baixo da história na pandemia de covid-19, quando foi de 2% ao ano. Os países implementaram medidas de estímulos monetários para aumentar o nível de atividade econômica durante o isolamento social.
Os incentivos se somaram às políticas fiscais expansionistas dos governos. Como consequência, a inflação global subiu. Medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), atingiu 12,13% no acumulado de 12 meses até abril de 2022.
A alta no índice de preços em alta levou o Banco Central a elevar os juros para controlar os preços e as expectativas. O órgão fez o maior ciclo de aperto monetário do Século 21. Subiu a Selic de 2,00% para 13,75% ao ano –alta de 11,75 pontos percentuais de 2021 a 2022.
O aperto monetário mesmo antes das eleições de 2022 é o principal argumento de Campos Neto para defender que as decisões de política monetária são técnicas.
O presidente Lula e aliados criticaram o presidente do BC. Acusaram-no de prejudicar o país com os juros altos no período da gestão PT. O Banco Central voltou a cortar os juros em agosto de 2023. O ciclo durou até junho de 2024, com a manutenção do indicador em 10,5% ao ano. O cenário global adverso, as incertezas sobre as contas públicas e o mercado de trabalho aquecido voltaram a elevar as expectativas futuras para a inflação.
A Selic voltou a subir em setembro. Começou com uma alta de 0,25 ponto percentual, que acelerou a cada reunião.
O futuro presidente do BC e diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, só divergiu de um voto de Campos Neto nas 12 reuniões do Copom realizadas de agosto de 2023 a dezembro de 2024.
INFLAÇÃO E METAS
O ano de 2024 será o último que o objetivo da inflação terá como referência o acumulado de 12 meses até dezembro. A nova meta contínua estabelece que haverá um descumprimento quando a taxa ficar fora do intervalo permitido por mais de 6 meses.
Campos Neto deve deixar o Banco Central com metade das metas cumpridas. As projeções para a inflação indicam um descumprimento ao fim de 2024. Caso as estimativas se cumpram, o presidente deve ser o que mais publicou cartas para explicar o descumprimento do objetivo inflacionário. Serão 3: 2021, 2022 e 2024.
O Brasil e o mundo sofreram com um ciclo de inflação mais alta depois dos estímulos fiscais e monetários na pandemia de covid-19.
O CMN (Conselho Monetário Nacional) estabeleceu uma meta contínua de 3% para a inflação que irá vigorar até meados de 2027. Há uma tolerância de 1,5 ponto percentual. Ou seja, o indicador pode chegar até 4,5%.
HISTÓRICO DE EVENTOS
Campos Neto teve eventos favoráveis e contrários à política monetária durante a gestão. Eis alguns destaques, separados por cada ano:
- 2019
- Aprovação da reforma da Previdência Social;
- Aprovação da MP de Liberdade Econômica;
- Guerra comerciais entre China (Xi Jinping) e Estados Unidos (Donald Trump).
- 2020
- Início da pandemia de covi-19;
- Estímulos fiscais e monetários para conter impacto da crise sanitária;
- Governo zera imposto para importação do arroz;
- Joe Biden é eleito presidente dos Estados Unidos;
- 2021
- Início da vacinação contra a covid-19;
- Congresso aprova autonomia operacional do Banco Central;
- Governo sanciona ICMS nacional para diesel, gasolina e gás;
- Crise energética que resultou em criação da bandeira tarifária de escassez hídrica;
- 2022
- 2023
- Críticas do governo à política monetária de Campos Neto e ao regime de meta;
- Início da guerra entre Hamas e Israel;
- indicações de diretores testam a autonomia do BC;
- Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) aumenta os juros para o intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, patamar que ficou até setembro de 2024;
- Governo derruba teto de gastos e cria nova regra fiscal;
- reforma tributária é aprovada no Congresso.
- 2024
- Marco fiscal é flexibilizado com metas menos rígidas;
- CMN (Conselho Monetário Nacional) estabelece meta contínua de inflação de 3%;
- Donald Trump é eleito presidente dos EUA;
- Mesmo com taxa Selic acima de 2 dígitos desde fevereiro de 2022, a taxa de desemprego atingiu o menor patamar da série histórica, iniciada em 2012;
- Governo apresenta pacote fiscal considerado pouco ambicioso pelos agentes financeiros.
A ERA CAMPOS NETO
Roberto Campos Neto tomou posse em 2019. Foi indicado por Paulo Guedes, ex-ministro da Economia do governo Jair Bolsonaro (PL). Caso fosse reconduzido ao cargo por Lula, poderia ficar até 2028 e se tornar o presidente do BC mais longevo, superando Henrique Meirelles (8 anos).
Responsável por indicar os diretores da autoridade monetária, Lula é crítico de Campos Neto e propôs o economista Gabriel Galípolo para comandar o órgão a partir de 2025. Campos Neto disse também ser contrário à recondução e que ficaria até dezembro de 2024.