A Embraer (EMBR3) quer embolsar até US$ 10 bilhões em 2030, excluindo a EVE, um salto grande frente aos US$ 6,4 bilhões estimados para este ano. O crescimento, diz a empresa, será impulsionado por avanços em eficiência operacional, tecnologia e inovação, e práticas de ESG (ambiental, social e governança). As projeções foram citadas pelo CEO Francisco Gomes Neto no Investor Day 2024, realizado em Nova York, na Nyse.
No segmento de aviação comercial, a Embraer destacou vantagens competitivas que a colocam à frente de rivais como Airbus e Boeing. O modelo E2, por exemplo, é mais leve e menos suscetível a problemas nos motores GTF, comuns na concorrência, segundo relatório do Bradesco BBI. Além disso, a diversificação da base de clientes deve ganhar força, especialmente na Ásia e nos Estados Unidos, onde o E175-E1 permanece em alta demanda devido às limitações regulatórias conhecidas como scope clauses.
A Embraer também projeta entregar mais de 300 unidades do E175-E1 nos Estados Unidos nos próximos 10 anos, enquanto mira novas oportunidades na China e na Índia. O BBI ressalta o custo por viagem cerca de 25% menor do E2 como um diferencial estratégico para conquistar mercado.
O segmento de aviação executiva também apresenta perspectivas otimistas, conforme os analistas. Eles observam que a demanda pós-pandemia continua forte, com uma nova geração de clientes mais jovens buscando jatos particulares.
A divisão de defesa e segurança da Embraer também brilhou no Investor Day. Com produção esgotada até 2027 e um mercado endereçável de 500 unidades para o C-390 Millennium, a empresa vê fortes oportunidades em contratos futuros, especialmente para a Otan e a Força Aérea dos Estados Unidos. A vantagem do C-390, que inclui versatilidade e custos operacionais reduzidos, reforça seu apelo global.
No setor de serviços e suporte, a Embraer quer dobrar o tamanho da unidade até 2030. A proximidade com clientes e o uso estratégico de centros como OGMA e Fort Worth, Texas, impulsionam essa expansão, segundo os estrategistas. Paralelamente, a Eve Air Mobility avança rumo à certificação do eVTOL (veículo elétrico de decolagem e pouso vertical) até 2027.
O Bradesco BBI e o Itaú BBA mantêm recomendações positivas para as ações da Embraer, com preço-alvo de US$ 43 para o final de 2025, reforçando o otimismo em torno da companhia. Apesar da valorização expressiva neste ano, as ações da Embraer continuam atraentes para analistas. O múltiplo EV/Ebitda – que representa o valor total de uma empresa com o seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização -, de 8 vezes para 2025 está abaixo da média histórica e de concorrentes como Airbus e Boeing, segundo o Itaú BBA. Isso, combinado com a expansão esperada das margens e os novos pedidos, sustenta as perspectivas otimistas.
Backlog de US$ 22,7 bilhões e expansão no mercado
Paralelo a isso, o JP Morgan destaca que a Embraer negocia com um desconto de cerca de 30% em relação aos pares, enquanto o backlog (carteira de pedidos dos clientes) de US$ 22,7 bilhões, o maior dos últimos nove anos, e um ROIC (retorno sobre capital investido) acima do custo de capital justificam uma melhora no valuation.
Já a XP Investimentos enfatiza a eficiência operacional e o crescimento projetado, mas manteve uma visão neutra devido aos múltiplos elevados da companhia. Apesar disso, ambas as análises apontam que os resultados apresentados no Investor Day fortalecem a percepção de que a Embraer está bem posicionada para sustentar seu crescimento nos próximos anos.
O BTG Pactual, por outro lado, ressalta em relatório que a Embraer tem se destacado na gestão de sua cadeia de suprimentos, minimizando os impactos das restrições globais. Os analistas dizem que a divisão de aviação executiva, por exemplo, atingiu margens e receitas recordes, apoiada por mudanças no perfil demográfico dos clientes, enquanto a unidade de Defesa se prepara para um 2024 de pedidos históricos, impulsionada pelo desempenho do cargueiro C-390 Millennium.
Para o Santander, a potencial expansão no mercado asiático de jatos regionais e o fortalecimento dos serviços de suporte reforçam a competitividade da Embraer. O banco reiterou sua recomendação Outperform (acima da média do mercado), destacando o cenário favorável para as margens operacionais e a sustentabilidade do crescimento.
UBS BB adota postura conservadora
Embora reconheça o forte momento da Embraer, o UBS BB rebaixou sua recomendação de Neutra para Venda, alegando que o mercado está precificando cenários excessivamente otimistas, como entregas comerciais acima da média e margens superiores ao histórico recente. O banco também apontou desafios no segmento de defesa, citando a dificuldade de conversão de intenções de compra em pedidos firmes no passado, como observado com o C-390.
O UBS BB destaca ainda a concorrência da Airbus no segmento de jatos regionais, com a família C-Series, rebatizada como A220, consolidando-se como uma forte rival. Apesar disso, elevou o preço-alvo para R$ 46,50 por ação, sugerindo que, mesmo em um cenário conservador, a Embraer possui potencial de valorização devido ao crescimento consolidado em suas unidades de negócios.
Ações atraentes
A Embraer acumula alta expressiva neste ano no Ibovespa (+142% no ano), com investidores estrangeiros mostrando maior apetite pela tese da companhia em comparação aos locais. Segundo o BTG, a exposição cambial e o ciclo favorável de resultados têm sido atrativos para o mercado global, enquanto no Brasil a avaliação de preço está mais conservadora.
Na terça-feira (19), após a UBS BB rebaixar sua recomendação para a empresa de neutra para venda, a reação do mercado foi imediata, com as ações da Embraer liderando o ranking de maiores baixas no índice Ibovespa, refletindo o receio dos investidores quanto às perspectivas da companhia para os próximos anos. Durante o pregão, a empresa chegou a desabar mais de 5%.
Hoje, porém, o jogo virou para a companhia. Às 12h10, a Embraer ocupava o segundo lugar no ranking de maiores altas da Bolsa, subindo 1,27% e cotada a R$ 55,17.
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