Andy Palmer, conhecido como o “padrinho dos EVs,” esclareceu recentemente como a China assumiu a liderança global no mercado de veículos elétricos (EVs) e alertou sobre os riscos de se investir em híbridos como estratégia de transição.
Palmer, que liderou o desenvolvimento do Nissan Leaf, o primeiro EV de mercado de massa do mundo, considera que a demora em adotar EVs favorece os fabricantes chineses e atrasa a competitividade ocidental. As informações são do Business Insider.
A liderança chinesa no mercado de EVs
A rápida ascensão de marcas chinesas como BYD transformou o mercado automotivo global. Combinando preços acessíveis e tecnologias avançadas, os fabricantes chineses consolidaram seu domínio no mercado doméstico e expandem rapidamente para outros países. Palmer destacou a qualidade dos veículos chineses, especialmente em tecnologia de baterias e software, chamando-os de “incomparáveis em valor pelo que oferecem.”
Esse avanço reflete a estratégia industrial agressiva da China, que, desde 2009, investiu pelo menos US$ 230 bilhões (R$ 1,4 trilhão) em subsídios para fabricantes de EVs. Segundo Palmer, o foco do governo chinês em veículos de nova energia ajudou a construir essa liderança. “Nos últimos 14 anos, o Ocidente não teve uma estratégia industrial equivalente,” afirmou.
Palmer criticou severamente os fabricantes que apostam em híbridos como estratégia de transição, classificando essa abordagem como “um erro estratégico.” Ele argumenta que essa escolha prolonga a dependência de tecnologias antigas, enquanto a China avança rapidamente no mercado global. “Quanto mais tempo as montadoras ocidentais permanecem nessa transição, mais competitivas as empresas chinesas se tornam,” alertou.
Os desafios da indústria automotiva japonesa
Marcas japonesas como Nissan, Toyota e Honda enfrentam dificuldades em se adaptar à rápida transição para EVs. A Toyota, que inicialmente teve sucesso com os híbridos, agora luta para acompanhar o mercado chinês. Nissan, que foi pioneira no desenvolvimento de EVs com o Leaf, não conseguiu manter sua liderança devido a más decisões gerenciais, disse Palmer.
Ele apontou que a insistência em híbridos levou a indústria japonesa a um “beco sem saída,” dificultando sua recuperação em mercados-chave como a China. Toyota e Honda enfrentam declínios de vendas, e a Nissan anunciou a demissão de 9 mil funcionários em 2024, enquanto surgem relatos de fusões entre as marcas.
Como o Ocidente pode competir
Palmer acredita que o Ocidente deve aprender com a estratégia da China, especialmente no setor de baterias, onde o país domina a cadeia de suprimentos global. Ele defende que os governos incentivem redes de recarga para aliviar a ansiedade de autonomia e possibilitar a venda de EVs mais baratos, com baterias menores.
Segundo Palmer, o alto custo dos EVs é um obstáculo significativo para a adoção em massa. Nos EUA, o preço médio de um EV em outubro foi de US$ 56.902, enquanto os veículos a combustão custavam em média US$ 48.623, de acordo com Kelley Blue Book.
“Se o Ocidente quiser recuperar o atraso, é essencial copiar a abordagem chinesa,” afirmou Palmer. Ele destacou que, mesmo com a produção de baterias local, grande parte das matérias-primas ainda é importada da China.
Palmer prevê um “sobrevivência do mais apto” no setor automotivo, especialmente na Europa, onde marcas como BYD e Xpeng estão expandindo agressivamente. Ele acredita que, se os fabricantes chineses conseguirem competir em mercados desafiadores como o europeu, sua liderança global será praticamente inabalável.
Com as vendas de EVs crescendo em ritmo mais lento do que o esperado, Palmer reforça que o alinhamento de preços entre EVs e veículos a combustão será crucial para impulsionar a transição. Enquanto isso, a China continua a liderar, ditando o ritmo da revolução elétrica global.