O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou publicamente, pela primeira vez, as revelações da Polícia Federal (PF) de que teria havido um plano para assassiná-lo, no fim do ano passado, antes que tomasse posse para o terceiro mandato no Palácio do Planalto.
Ao participar de um evento que tornou oficial o Programa de Otimização de Contratos de Concessão Rodoviária – as chamadas “concessões inteligentes” –, Lula falou sobre o assunto pela primeira vez, em tom até descontraído.
“Eu sou um cara que tenho que agradecer agora, muito mais, porque eu estou vivo. A tentativa de envenenar eu e Alckmin não deu certo e nós estamos aqui”, afirmou o presidente, arrancando alguns risos da plateia.
Sem citar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigado pela PF pela suposta participação na tentativa de golpe de Estado, Lula defendeu a “civilidade” na política.
“Quando nós disputamos as eleições, eu dizia que um dos meus desejos era trazer o Brasil à normalidade, à civilidade democrática, em que a gente faz as coisas da forma mais tranquila possível”, afirmou. “De forma civilizada, você perde e você ganha”, completou Lula.
“Queria chamar atenção para este momento histórico que estamos vivendo. É este país, sem perseguição, sem o estímulo do ódio e da desavença, que a gente precisa construir”, prosseguiu Lula.
“Eu não quero envenenar ninguém. Não quero nem perseguir ninguém. Só quero que, quando terminar o meu mandato, a gente desmoralize aqueles que governaram antes de nós”, concluiu o presidente.
Segundo as investigações da PF, o grupo criminoso tinha o objetivo de impedir a posse de Lula e teria articulado, inclusive, um plano para assassinar o petista, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Operação Contragolpe
As apurações que envolvem a Operação Contragolpe se relacionam a uma investigação mais ampla da PF sobre a suposta atuação de uma organização criminosa em 5 eixos:
1) Ataques virtuais a opositores;
2) Ataques às instituições (como o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral;
3) Tentativa de Golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
4) Ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia;
5) Uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens, com uso de suprimentos de fundos (cartões corporativos) para pagamento de despesas pessoais, inserção de dados falsos de vacinação contra Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde, e desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras e posterior ocultação.
A operação está relacionada ao eixo 3: “Tentativa de Golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito”.
Segundo os investigadores, foram executadas ações operacionais ilícitas por militares com formação em Forças Especiais (FE) do Exército (os chamados “kids pretos”). Inicialmente, a ideia era monitorar as atividades do ministro Alexandre de Moraes, do STF, para posterior “execução de sua prisão ilegal e possível assassinato”.
Os relatos indicam que tal monitoramento teria começado logo após reunião, realizada em 12 de novembro de 2022, na residência de Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil na gestão Bolsonaro.
Também estavam nos planos os homicídios de Lula e Alckmin, à época recém-eleitos, em uma tentativa de impedir a posse do novo governo.
De acordo com a PF, as movimentações para a consumação de um Golpe de Estado tiveram seu auge entre novembro e dezembro de 2022 e foram batizadas pelos envolvidos de “Copa 2022”.
Os indícios foram identificados a partir da análise de dados do celular apreendido do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e de trocas de mensagens com Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, que entrou nas investigações sobre suposto desvio de joias recebidas pelo político durante o mandato.
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