Plano foi traçado no fim de 2022, pouco antes de Lula e Alckmin, que venceram a eleição daquele ano, tomarem posse. Quatro militares do Exército e um agente da PF, envolvidos com a estratégia golpista e homicida, foram presos. A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (19) uma operação que revelou um plano de militares do Exército para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O plano — batizado de Punhal Verde e Amarelo — foi traçado no fim de 2022, pouco antes de Lula e Alckmin, que venceram a eleição daquele ano, tomarem posse.
Quatro militares do Exército e um agente da PF, envolvidos com a estratégia golpista e homicida, foram presos.
As informações sobre os preparativos para matar as autoridades e dar um golpe de Estado foram encontradas pela PF, com ajuda de um equipamento israelense, em celulares e computadores dos investigados.
PF prende 4 militares e um policial federal suspeitos de tramar golpe de estado para impedir a posse de Lula
Veja abaixo os principais pontos do plano e da investigação:
Quem são os presos?
Um deles trabalhou no governo Jair Bolsonaro
Plano foi impresso no Palácio do Planalto
Golpistas chegaram a se posicionar em pontos de Brasília para capturar Moraes
Documentos previam assassinato por tiro ou por veneno
Bolsonaro aceitou ‘assessoramento’
Plano foi discutido na casa do general Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e vice na chapa
O que aconteceria depois se os assassinatos fossem realizados?
Bolsonaro disse que ações poderiam ocorrer até 31 de dezembro
Quem são os presos?
Cinco pessoas foram presas por envolvimento no plano golpista.
Quatro deles são militares do Exército ligados às Forças Especiais da corporação, os chamados “kids pretos”:
E também foi preso um policial federal: Wladimir Matos Soares, que tinha informações da segurança de Lula no período. Ele atuava como agente da PF no hotel em que o Lula se hospedava no período da transição de governo.
Os presos na operação da PF que investiga tentativa de assassinato de Lula, Alckmin e Moraes
Reprodução
Um deles trabalhou no governo Jair Bolsonaro e frequentou acampamentos golpistas
O general de brigada Mario Fernandes foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República em 2022, último ano do ex-presidente Jair Bolsonaro no poder.
No ano seguinte, com Bolsonaro já fora da Presidência, Fernandes virou assessor parlamentar do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde no governo do ex-presidente.
A PF descreve Fernandes como “um dos militares mais radicais” e influente nos acampamentos golpistas montados após a derrota de Jair Bolsonaro na eleição de 2022.
Plano foi impresso no Palácio do Planalto
Segundo o relatório da PF, o documento, nomeado como “Plj.docx”, foi impresso por Mário Fernandes no Palácio do Planalto, no dia 6 de dezembro de 2022, às 18h09.
De acordo com o blog da Daniela Lima, na hora da impressão, Bolsonaro estaria no palácio.
Documentos previam assassinato por tiro ou por veneno
No documento com o plano golpista e homicida, os envolvidos debatem matar Lula, Alckmin e Moraes com tiro ou veneno.
➡️ No material, intitulado “Planejamento Punhal Verde Amarelo”, os militares listam uma série de “demandas” operacionais e logísticas para concluir os planos.
➡️ E indicam, também, as “condições de execução” – ou seja, as circunstâncias que permitiriam os assassinatos.
“Algumas Psb [possibilidades/ já foram levantadas para a Ac Pcp [ação], entretanto, ainda são necessárias avaliações quanto aos locais viáveis, condições para execução (tiro a curta, média ou longa distância, emprego de munição e/ou artefato explosivo), possibilidades de reforço (PF) e proteção do alvo, bem como a intervenção de outras Forças de Segurança”, escreveram os golpistas em seu planejamento.
“Outra possibilidade foi levantada para o cumprimento da Missão, buscando um elemento químico e/ou biológico, ou envenenamento do Alvo, preferencialmente, durante um Evento Oficial Público. O nosso Rec [reconhecimento] também está levantando outras condições para tal L. Aç [ação]”, completaram os golpistas.
Veja o documento na imagem abaixo:
Plano de militares golpistas para assassinar Lula e Alckmin em 2022 – página 1
PF/Reprodução
Bolsonaro aceitou ‘assessoramento’
Um dos militares presos, o general da reserva Mario Fernandes visitou o Palácio do Alvorada no fim de 2022, residência oficial do então presidente Jair Bolsonaro.
Nos diálogos obtidos pela polícia, ele conta aos colegas que conversou com Jair Bolsonaro na ocasião. Em áudio, Fernandes comemorou que o então presidente aceitou o “nosso assessoramento”, segundo ele.
Plano foi discutido na casa do general Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e vice na chapa
Ainda de acordo com as investigações, o plano golpista e homicida chegou a ser discutido em reunião na casa do general Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice na chapa do ex-presidente.
O encontro foi confirmado pelo general Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro que se tornou colaborador da Justiça, e corroborado por materiais apreendidos com o general Fernandes, um dos golpistas presos.
Braga Netto estava presente no encontro, segundo a PF. Também estavam lá Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro, e os majores Hélio Ferreira Lima e Rafael de Oliveira – esses dois também foram presos nesta terça, suspeitos de, junto com Fernandes, elaborarem o plano para matar Alckmin e Lula.
Golpistas chegaram a se posicionar em pontos de Brasília para capturar Moraes
Em 15 de dezembro de 2022, os golpistas chegaram a ir às ruas de Brasília para capturar Moraes, mas abortaram a operação.
A polícia teve acesso a mensagens de um grupo de conversa por aplicativo criado pelos golpistas, chamado “Copa 2022”.
“As mensagens trocadas entre os integrantes do grupo ‘copa 2022’ demonstram que os investigados estavam em campo, divididos em locais específicos para, possivelmente, executar ações com o objetivo de prender o ministro Alexandre de Moraes”, escreveu a PF no documento que baseou a operação.
Os integrantes do grupo usavam codinomes de países que estavam disputando a Copa do Mundo naquele mês.
“Às 20h33, a pessoa associada ao codinome ‘Brasil’ informa um dos locais em que estavam atuando. Diz: ‘Estacionamento em frente ao Gibão Carne de Sol [restaurante]. Estacionamento da troca da primeira vez’. Em seguida, a pessoa associada ao codinome ‘Gana’ informa que já estava no local combinado: ‘Tô na posição’. O interlocutor ‘Brasil’ responde ‘Ok'”, continua a PF.
Mas, por algum motivo ainda não claro, os golpistas desistem da operação após o STF, que estava reunido em plenário naquele dia, ter decidido adiar um julgamento que estava em análise no momento.
“Em seguida, o membro que utilizava o codinome ‘Áustria’ informa no grupo ‘copa 2022’ que está ‘chegando’ e pergunta: ‘Qual é a sua posição Gana?’. Ele fica sem resposta, mas o usuário ‘teixeiralafaiete230’ compartilha, às 20h53min, um print de uma notícia do Portal Metrópoles com a manchete: ‘Com placar apertado, STF adia votação de orçamento secreto para 2ª'”, explica a PF.
É neste momento que o grupo decide abortar a missão:
“Cerca de dois minutos depois, ‘teixeiralafaiete230’ responde: ‘Abortar… Áustria… volta para local de desembarque… estamos aqui ainda…'”, completa o relatório da polícia.
Veja a troca de mensagens interceptadas pela PF:
Print da troca de mensagens entre os golpistas que estavam na rua para capturar Moraes
Reprodução
O que os golpistas haviam planejado como passo seguinte às mortes de Lula e Moraes?
Os militares presos pela PF nesta terça-feira planejavam criar um “gabinete de crise” como resposta aos eventuais assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes.
Investigação da PF aponta que os golpistas previam colocar os generais Augusto Heleno, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e Braga Netto como comandantes desse grupo de crise.
“O documento também coloca a necessidade de constituir um gabinete de crise para restabelecer a ‘legalidade e estabilidade institucional'”, diz trecho da investigação.
Bolsonaro disse que ações poderiam ocorrer até 31 de dezembro
Em trecho de conversa entre o general da reserva Mario Fernandes e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Fernandes que conversou com o ex-presidente sobre supostas ações golpistas e que ouviu dele que “qualquer ação” poderia acontecer até o último dia de 2022.
“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo”, diz o trecho da conversa feita 2022 contido em relatório da PF.
Arsenal poderia derrubar paredes
O arsenal previsto para ser utilizado na tentativa de golpe em 2022 poderia destruir paredes do Supremo Tribunal Federal (STF) e até mesmo explodir carros blindados, avaliam especialistas.
Seriam utilizadas quatro pistolas 9mm, ou .40 e quatro fuzis 5,56 mm, 7,62mm ou .338.
“Chama atenção, sobretudo, o armamento coletivo previsto, sendo: 1 metralhadora M249 –MAG – MINIMI (7,62 mm ou 5,56 mm), 1 lança Granada 40 mm e 1 lança-rojão AT4. São armamentos de guerra comumente utilizados por grupos de combate”, detalhou a PF.
O lança-rojão seria o armamento mais pesado. De acordo com o relatório, é usado principalmente por forças armadas e de segurança para combate a veículos blindados e estruturas fortificadas. “É um lançador de foguetes antitanque. A munição é um foguete guiado que possui uma ogiva explosiva”, explica a corporação.